Quando o Projeto Já Nasce Condenado: A Verdade Sobre Clientes Que Não Sabem o Que Querem.
- Cleid Braga

- 14 de out.
- 6 min de leitura
E por que você não tem culpa quando a coisa desanda

Preciso Confessar Uma Coisa...
Semana passada, passei por uma situação que me fez questionar tudo sobre meu trabalho. Sabe aquela sensação de fracasso profissional que te engole?
Pois é, estava eu lá, mergulhada nela.
Um projeto que parecia promissor simplesmente... desmoronou.
E o pior: eu me senti completamente responsável pelo fracasso.
Mas aí, depois de muito refletir (e desabafar com outros profissionais), percebi algo libertador: nem todo projeto que dá errado é culpa exclusiva nossa.
Às vezes, o projeto já nasce condenado por uma combinação de fatores.
E precisamos falar sobre isso.
A Armadilha do "Preciso Desse Cliente"
Quem trabalha com comunicação e design conhece bem essa sensação.
Especialmente no começo, quando cada cliente parece uma questão de vida ou morte para o negócio.
Você está ali, construindo portfólio, tentando se estabelecer, e aparece aquele projeto. Não é o ideal, mas... é um projeto, né?
E aí começam as concessões:
"Ok, o prazo é apertado, mas eu dou um jeito"
"O briefing está confuso, mas conversando a gente alinha"
"O investimento não é o ideal, mas vai ser bom pro portfólio"
Spoiler alert: Quando você começa fazendo muitas concessões, geralmente não termina bem.
Os Sinais de Alerta Que Ignoramos
Com a experiência (e algumas frustrações no caminho), você aprende a identificar
as red flags de um projeto problemático:
O cliente tem pressa, mas não tem clareza. Quer tudo "para ontem", mas não consegue explicar exatamente o que é esse "tudo".
As ideias são abstratas, vagas, mudam a cada conversa.
O processo criativo vira adivinhação. Em vez de criar, você está tentando decifrar o que a pessoa quer. É como jogar dardo no escuro. Você pode até acertar, mas as chances são mínimas.
A matemática não fecha. Querem resultado de agência com investimento de projeto básico. E ainda com urgência de emergência médica.
A Equação do Projeto Impossível
Vamos fazer as contas de forma bem honesta:
Tempo curto + Briefing confuso + Expectativa alta = Frustração garantida
Não é pessimismo. É matemática.
Quando você aceita trabalhar sob essas condições, está basicamente assinando um contrato de decepção mútua.
Você não consegue entregar seu melhor, e o cliente não recebe o que (acha que) queria.
Por Que Nos Culpamos Pelo Fracasso Alheio?
Aqui está a parte mais dolorosa: quando o projeto inevitavelmente dá errado, nós nos culpamos completamente.
"Devia ter entendido melhor o que ele queria""Talvez se eu tivesse sido mais rápida""Será que não sou boa o suficiente?"
PARA TUDO!
Claro, sempre podemos melhorar nossa comunicação, nossos processos, nossa capacidade de identificar problemas. E devemos fazer isso.
Mas também precisamos reconhecer que nem sempre um projeto fracassado é resultado apenas da nossa performance.
Você não é telepata. Você não é mágico. Você é um profissional criativo que precisa de condições mínimas para trabalhar.
E isso inclui:
Briefing claro (ou pelo menos coerente)
Tempo adequado para o processo criativo
Comunicação transparente
Não é pedir demais. É o básico.
A Síndrome do Impostor Se Alimenta Disso
E aqui chegamos no ponto mais cruel de toda essa situação:
esses projetos fracassados são combustível puro para a síndrome do impostor.
Quando um projeto dá errado, mesmo que por uma combinação de fatores que vão além do nosso controle a nossa mente não processa a situação de forma equilibrada.
Em vez disso, ela sussurra coisas como:
"Você não é profissional o suficiente""Um designer de verdade teria conseguido""Você é uma fraude e agora foi descoberta"
A síndrome do impostor adora quando temos "evidências" do nosso fracasso. E um projeto que desmorona é a evidência perfeita para ela argumentar que somos inadequados para nossa profissão.
Mas aqui está a verdade: Às vezes você fracassa. Às vezes o projeto fracassa. E às vezes a combinação de fatores torna o sucesso quase impossível. Há uma diferença enorme entre essas situações.
Quando você não tem tempo suficiente, material consistente para trabalhar, ou um briefing coerente, qualquer profissional (do mais iniciante ao mais experiente) vai ter dificuldades. Isso não te torna um impostor.
Te torna humano.
Quando o Alinhamento Não Acontece
Vamos falar sobre uma verdade que precisamos aceitar: às vezes, simplesmente não há match entre profissional e cliente.
E isso não significa que alguém é "culpado".
Alguns clientes estão em um momento de incerteza sobre seu próprio negócio. Outros têm uma visão muito específica, mas não conseguem comunicá-la. Alguns realmente não sabem o que querem.
Do nosso lado, às vezes aceitamos projetos que estão fora da nossa zona de conforto, ou não fazemos as perguntas certas no início, ou simplesmente erramos na estimativa de tempo e complexidade.
E sabe o que acontece?
O projeto não flui. Não é necessariamente "culpa" de ninguém, é uma combinação de fatores que criam condições desfavoráveis para o sucesso.
Até Onde Devemos Nos Submeter?
Essa é a pergunta de um milhão de reais, né? Onde traçar a linha?
A resposta não é simples, mas aqui vai minha reflexão após muitas tentativas e erros:
No início da carreira, é natural aceitar projetos não-ideais.
Você está aprendendo, construindo portfólio, entendendo o mercado.
Mas mesmo nesses casos, estabeleça limites mínimos.
Com o tempo, você percebe que projeto com bases frágeis dificilmente se sustenta. Cliente e profissional desalinhados não geram bons resultados.
E desgaste emocional não compensa investimento nenhum.
O Aprendizado Que Vem da Frustração
Depois de processar toda a frustração (e acredite, leva tempo), algumas lições ficam cristalinas:
Confie no seu instinto: Se desde o início algo parece estranho, provavelmente é.
Comunicação confusa não é desafio criativo: É problema que precisa ser resolvido ANTES de começar.
Pressa extrema combinada com incerteza raramente termina bem: Urgência real existe, mas é exceção, não regra.
Seu valor profissional não diminui porque um projeto não deu certo. Às vezes, simplesmente não era o momento certo ou o match certo.
Como Se Proteger (Sem Virar o Profissional Difícil)
Você não precisa virar aquele profissional inflexível e complicado.
Mas precisa se proteger:
Faça perguntas. MUITAS perguntas. Antes de aceitar qualquer projeto, certifique-se de que entendeu exatamente o que é esperado.
Estabeleça expectativas claras sobre prazo, processo e entregas. Se o cliente não consegue ser específico, é um sinal de que talvez ele ainda não esteja pronto.
Documente tudo. E-mails, conversas, acordos. Pode parecer exagero, mas salva vidas (e projetos).
Tenha contratos simples, mas claros. Não precisa ser um documento de 20 páginas, mas precisa proteger ambas as partes.
A Liberdade de Dizer "Não"
Aqui está o insight mais libertador de todos: você pode recusar projetos.
Eu sei, eu sei. Quando você está começando, parece loucura dispensar qualquer oportunidade. Mas às vezes, não aceitar um projeto com bases frágeis é a melhor decisão que você pode tomar.
Porque esse tempo e energia que você gastaria em um projeto com poucas chances de sucesso poderiam ser investidos em prospectar clientes mais alinhados, melhorar suas habilidades ou até descansar para chegar inteiro no próximo projeto.
Fica a lição
Cada projeto que dá errado ensina algo.
A frustração faz parte do processo de aprender a filtrar melhor os clientes e projetos.
Não se culpe por ter tentado.
Não se culpe por ter acreditado que daria certo.
Mas também não assuma toda a responsabilidade quando múltiplos fatores contribuem para o insucesso.
No final das contas, profissionais experientes são apenas profissionais iniciantes que já passaram por muitas frustrações e aprenderam a identificar quando as condições são favoráveis ao sucesso.
Conclusão: Nem Sempre É Só Sua Culpa
Se você está passando por uma situação similar agora, respira fundo.
Nem sempre você é o único responsável pelo que deu errado.
Nem todo cliente está no momento certo para um projeto criativo. Nem todo projeto tem as condições ideais para dar certo. E nem toda frustração profissional é reflexo apenas da sua competência.
Às vezes, a coisa mais madura que você pode fazer é reconhecer que alguns projetos simplesmente não estavam destinados ao sucesso, independente do esforço de ambas as partes. E tudo bem.
Faz parte do jogo. E você vai ficar mais esperto para identificar essas situações na próxima.
P.S.: Se você chegou até aqui, provavelmente já passou (ou está passando) por algo parecido. Saiba que não está sozinho nessa. A frustração passa, a experiência fica.




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